O Sul e em especial Porto Alegre sempre ofereceu especial atenção para os Anfíbios Biplanos, foi nesta região que se formou a maior frota deste tipo de aeronaves experimentais de 1999 até aproximadamente o ano de 2008. Naquele momento em que os ultraleves eram de cano e pano e equipados com motorização 2 tempos, a chegada do Paturi do Barichello trouxe para a comunidade de experimentais gaúcha o primeiro exemplar de um ultraleve com cara de aviãozinho, sólido e com motor realmente aeronáutico. O sucesso do biplano foi rápido e em 2004 além de vários Paturis, os gaúchos passaram trazer Petréis usados de todo o Brasil. Houve uma série muito limitada de Super Paturi que também veio para o Sul e quando foi lançada a versão seguinte, o Petrel 100, foi para esta comunidade que veio boa parte da pequena produção dos primeiros meses.
Naquele momento as
aeronaves deste tipo custavam apenas cem mil dólares e a cotação da moeda
americana não ultrapassava os três reais. O biplano anfíbio custava não mais do
que o dobro de um bom carro importado e assim sendo a fábrica não dava conta de
produzir o que se vendia.
Nos anos que se seguiram muitas vezes tínhamos 3 ou 4 aeronaves encomendadas na
fila e o tempo de espera girava entre os 4 e os 8 meses.
Foi providenciada então uma base anfíbia à altura dos apaixonados por biplanos anfíbios que se multiplicavam rapidamente, uma área com um bom espaço foi adquirida na Ilha Grande dos Marinheiros, a 10 minutos do centro de Porto alegre e lá foi montado um centro de treinamento e certificação de pilotos, além de um posto avançado de manutenção da que atendia todo o estado. Neste ponto já eram vistos neste lugar todo o tipo de anfíbios e os modelos SeaMax e Corsário já tinham presença entre as dezenas de Petréis.
Com o sucesso do
Dynamic WT-9 e o empréstimo do primeiro, o PU-DYN, para permanência em Porto
Alegre por algum tempo, as aeronaves terrestres também proliferaram. A equipe
de manutenção do fabricante, muitas vezes com a presença do Rodrigo Marchesin ficava
semanas no sul e tínhamos um apoio impecável, fazendo da frota gaúcha ultraleves
experimentais uma das mais seguras do país.
Com o apoio do ABUL a base anfíbia de Porto Alegre emitiu e manteve atualizadas dezenas de habilitações, principalmente anfíbias, já que anualmente eram realizadas incursões de todo o estado para este local para um verdadeiro mutirão de checagens de pilotos. Algumas vezes o trabalho dos checadores iniciavam na sexta pela manhã e seguiam de forma contínua até o final de domingo, sendo que nestas empreitadas foram fundamentais as presenças de talentosos instrutores/checadores de anfíbios, como o saudoso Major Albrecht, o Nedmar, o Paraíba e muitos outros.
Recessão e dificuldades
Este período de crescimento exponencial ocorreu até meados de 2014 quando diversos fatores, incluindo a alta do dólar americano, resultaram no crescimentos súbitos dos preço das aeronaves. Este fato gerou forte retração do consumo e consequentemente na fabricação de várias aeronaves com consequências que foram desde o encerramento das atividades de vários fabricantes até dificuldades para os consumidores que não dispunha mais de peças para manter uma manutenção adequada de suas aeronaves. A situação piorou e mais fabricantes descontinuaram suas produções de aeronaves, outros se limitaram a fornecer para o exterior e este movimento ocorre até a presente data.
Um polo completo de manutenção e recuperação de aeronaves
Desde o princípio já tínhamos aqui no sul a disponibilidade de muitos talentos que fizeram a história de empresas como a Varig, a Aeromot, Savag, Conal e outras empresas gaúchas da aviação que também foram descontinuadas. Embora existam excelentes oportunidades para profissionais da aeronáutica no centro do país, muitos não se dispuseram a mudar e a maioria passou a trabalhar em setores onde não sentiam a mesma paixão que tinham pela aviação.
Assim sendo sempre tivemos no sul algum apoio local e foi natural o projeto iniciado em 2021 de montarmos uma equipe operando continuamente dedicada a manter voando as maquininhas maravilhosas que permaneciam aninhadas nos pagos gaúchos. Engenheiros Aeronáuticos, Mecânicos e Eletrônicos, Engenheiros de materiais, Especialistas em Materiais compósitos, Designers industriais e muitos outros se juntaram na formação de uma equipe multidisciplinar altamente capacitada que acabou ficando conhecida em todo o Brasil e que recuperaram com sucesso pássaros que tiveram maus momentos.